葡语TED演讲🍇Se você não quiser se ajudar, ninguém vai conseguir te ajudar

葡语TED演讲🍇Se você não quiser se ajudar, ninguém vai conseguir te ajudar

2019-06-11    11'56''

主播: 吃葡萄吐葡萄牙语

4692 60

介绍:
Se você não quiser se ajudar, ninguém vai conseguir te ajudar Tradutor: Maurício Kakuei Tanaka Revisor: Maricene Crus Eu já pensei em me matar. E não foi uma nem duas vezes. Eu sentava no parapeito da janela do sétimo andar do prédio onde eu morava todos os dias. Eu era adolescente e eu estava enfrentando um quadro de síndrome do pânico e de depressão, um mal que atinge mais de 300 milhões de pessoas no mundo e que também é o mal que mais tira anos saudáveis dos brasileiros. Eu sou neta de psiquiatra, eu sou filha de psicanalista, mas ninguém conseguia me tirar do quarto. Pra mim, não existia mais o "fora do quarto". Existia apenas um... "canto", no qual eu me afundava cada vez mais. Um dia, minha mãe bateu na porta, e eu reuni todas as minhas forças pra abrir uma fresta, e foi por aquela festa que ela me disse uma frase que eu nunca mais esqueci: "Filha, se você não quiser se ajudar, ninguém mais vai te ajudar". Eu queria me ajudar. Eu sabia que eu queria me ajudar, mas eu não conseguia. Como é que eu podia querer me ajudar e querer me matar ao mesmo tempo? Quantas vozes moravam dentro da minha cabeça! Uma me dizia que tinha saída, e a outra só conseguia olhar pro parapeito da janela. Quem era eu no meio dessas vozes? Eu era um corpo que doía; eu era uma tremenda dor de cabeça; eu era um oco por dentro.a gente foi ajustando a medicação, E aí, eu me agarrei àquela esperança como um náufrago se agarra a um colete salva-vidas numa noite de tempestade. No dia seguinte, minha mãe conseguiu me levar ao psiquiatra. Eu não podia mais faltar à escola. Então, eu comecei a tomar remédio. Só que, naquela época, os remédios pra depressão não eram tão sofisticados quanto são hoje. Eu engordei dez quilos em duas semanas. Fiquei arrasada. A sensação que eu tinha era de que, se meu pai fosse atropelado ali, no outro lado da rua, eu não iria nem conseguir gritar, tamanha a apatia que eu sentia. Mas, aos poucos, a gente foi ajustando a medicação, e, devagarzinho, o ânimo começou a reaparecer. E aí, além de ir ao psiquiatra, eu comecei também a fazer terapia, e eu me lembro de que ela me deu três dicas. A primeira dica era pra que eu cuidasse da minha alimentação como quem cuida da alimentação de um bebê. Ela falou assim: "Mari, presta muita atenção se você quer realmente comer aquilo, se você precisa comer aquilo e, se você puder preparar pra você o que você vai comer, melhor ainda. A segunda dica que ela me deu foi pra eu tentar dormir direito. No começo, eu tive uma medicação que me ajudou a fazer isso. A terceira dica foi pra eu voltar a praticar atividade física. Aos poucos, eu fui melhorando e fui voltando a ser a Mari que eu sempre fui. As minhas amigas me convidavam pra jantar, pra comer pizza, pra tomar chope, pra "enfiar o pé na jaca" na balada, e eu recusava. Elas achavam que era porque eu tinha muita força de vontade de continuar com a dieta. Mas, na verdade, eu abria mão das companhias que eu tanto amava por medo. Eu tinha muito medo de que qualquer deslize me levasse de volta pro parapeito da janela. Era um monstro que me rondava, que estava o tempo todo à espreita. Eu não queria mais me encontrar com a depressão. Então, eu mantinha a minha disciplina na atividade física, na minha alimentação, e tentava dormir direito. Isso muito antes de eu ter que falar sobre saúde na televisão. E funcionou. Funcionou, até que eu fiquei grávida. E a gravidez foi pra mim uma licença pra sentir. Eu me sentia distante do mundo; eu me sentia... nula; eu me sentia feia; eu me sentia burra. Todos os medos concentrados num único pote. A minha dose diária de angústia era assistir à minha substituta na televisão, de dentro da minha própria casa. Eu achava que ela era mais bonita, mais inteligente, que ela tinha uma conexão melhor com meu parceiro de apresentação; eu achava que ninguém mais precisava de mim. E eu não tinha mais ninguém pra bater à minha porta, porque a minha mãe morreu quando eu tinha 20 anos, vítima de um AVC. Mas foi aí que eu me lembrei de uma porta que está sempre aberta: a meditação. Eu comecei a meditar quando eu tinha 12 anos. Eu era amiga do dono de um sebo que ficava na esquina da minha casa e eu ia lá, passava as tardes com ele pra gente conversar sobre Machado de Assis, Fernando Pessoa, José Saramago, Manoel de Barros. Até que, um dia, ele olhou pra mim e falou assim: "Mari, isso é pra você. Esse livro é a sua cara. O livro se chamava "Visualização Criativa", e tinha uma mandala na capa. Eu tinha 12 anos. Eu não tinha a menor ideia do que era uma mandala. Eu não tinha a menor ideia do que era a visualização criativa, mas eu tinha muita curiosidade pra saber por que o dono do sebo achava que aquele livro era a minha cara. Então, eu corri pra casa e comecei a ler o livro e comecei a fazer os exercícios que o livro propunha, e um deles era assim: imagina uma bolha dourada na sua cabeça; depois, na sua testa, na sua garganta, no seu coração, um pouquinho acima do umbigo, um pouquinho abaixo, até chegar na região pélvica. Eu coloquei um CD da Enya no meu "micro system" e comecei a fazer o exercício. Só me dei conta de que aquele exercício tinha durado mais tempo do que eu tinha planejado quando o CD acabou. Eu tinha ido pra um lugar mágico, cheio de luzes douradas, lilases, violetas, verdes, azuis, um lugar que me parecia mais real do que a realidade. Eu me lembro de ter pensado assim: "Gente, será que é isso que o pessoal chama de 'entrar em alfa'?" Eu tinha meditado por acaso, sem saber que eu estava meditando. Acho que por isso é que foi tão fácil da primeira vez, e é claro que, no dia seguinte, eu quis repetir o exercício. Eu quis voltar pra aquele lugar mágico, mas não funcionou. E aí, com a prática, eu fui entendendo que a meditação profunda não tem nada a ver com essa nossa vontade de controlar o mundo. A meditação profunda requer entrega e não controle. A meditação dá aquilo que eu chamo não de "big data" da saúde, mas de "core data". Ela te dá acesso aos dados do seu coração. "Core", de conectar-se; "O", de observar seus pensamentos, suas sensações, seus sentimentos, suas emoções. Depois que você se conectou, observou, vem o "R", de... (Inspiração) respirar, com tudo o que está ali. A respiração é a nossa única função automática que a gente consegue controlar. E é tão bom quando a gente consegue controlar. Conectar, observar, (Expiração) respirar, pra depois, escutar-se. Eu fui aprendendo a reconhecer os meus sinais como quem reconhece placas de trânsito na rua. Eu fui aprendendo a cuidar de mim sem precisar que ninguém batesse na porta, porque, como eu disse, a maternidade me deu liberdade pra sentir, e, além de tudo o que eu já falei, eu também senti o maior amor do mundo e eu senti que eu queria cuidar de mim, porque eu curtia muito cuidar de outra pessoa. E aí, as minhas meditações começaram a mudar um pouco, porque, assim como existem inúmeras dietas, existem centenas e centenas de formas de meditação. Lá atrás, eu meditava pra conseguir o que eu queria. Eu tinha uma meta, fazia uma visualização e conseguia criar a minha realidade. A visualização criativa pressupõe isso: que você é capaz de criar a sua própria realidade. Mas, depois que eu virei mãe, a minha meditação mudou um pouco. Eu comecei a meditar pra abrir meu coração. Eu comecei a meditar pra ter mais bondade. Eu comecei a meditar pra sentir mais gentileza, pra vivenciar a gratidão, porque hoje a ciência já sabe que a meditação pode sim funcionar como um grande filtro, porque ela altera circuitos cerebrais e deixa a gente mais otimista. A gente passa a ver a vida com outros olhos: com os olhos que também a autora da visualização criativa via. A gente passa a ver a vida de uma maneira linda, exuberante, abundante, como ela realmente é. A ciência também já sabe que a meditação ajuda a controlar a pressão arterial e os batimentos cardíacos, fatores de risco pra enfarte e pra um AVC, como o que matou a minha mãe. A ciência também já sabe que a meditação não é legal pra quem está na crise da depressão. Pode até piorar. Mas, se a crise já passou, ela funciona tanto quanto remédio pra evitar as recaídas. E o que eu sei é que a minha prática diária de meditação não é pro momento que eu estou meditando, mas é pra todos os momentos da minha vida, momento a momento. O que eu sei é que, em se tratando de saúde, a única coisa que você não pode deixar de fazer por você é aquilo que só você pode fazer por você. E é por isso que eu continuo cuidando da minha alimentação, cuidando da minha atividade física, do meu sono e meditando todos os dias. Obrigada. (Aplausos)